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But I'm a Good Girl!

"Temos de ir a um espectáculo de burlesco." Disse-mo a Charlie há alguns meses, e eu não pude deixar de concordar. Esta era a sua primeira visita à Europa, e jamais ficaria completa sem um pouco de devassidão. Foi assim que, numa quente noite de Abril, demos connosco no Casino de Lisboa, para ver as bailarinas do lendário Crazy Horse de Paris.

Para quem não sabe, o Crazy Horse nasceu em 1951 da imaginação de Alain Bernardin, e do seu fascínio pelo striptease à já então antiga americana: um pastiche de números de vaudeville, paródia, entretenimento para adultos, música, dança, e comédia. Com o passar do tempo, o Crazy Horse soube evoluir para o seu próprio e inconfundível estilo, influenciado pelo cinema da Nova Vaga, pelo Neo-Realismo, pela Pop Art dos anos 60 e 70. Os números tornaram-se independentes, cada um com a sua própria coreografia e estrutura cénica. A própria Dita Von Teese, incontestada Rainha do Burlesco e figura central do movimento revivalista que por estes dias varre o mundo, foi convidada especial do Crazy Horse com um número de extraordinária sensualidade. E era exactamente disso que estávamos à procura.

Depois de desperdiçar algum dinheiro nas slot machines e de apreciar por alguns minutos a dança dos acrobatas de Novo Circo que flutuavam sobre o Arena Lounge, estávamos prontas para subir até ao último piso do Casino e ao Auditório dos Oceanos.

Infelizmente, nem todos estavam assim tão prontos, pelo que foi necessário um longo compasso de espera até que encontrassem os seus lugares. Por outro lado, isto deu-nos a oportunidade de ir lendo a entrevista com a Jenna Jameson na MaxMen que era disponibilizada, gratuitamente, à entrada, para bebericar da flauta de champanhe que era disponibilizada, a pagar, à entrada, ou para simplesmente apreciar a eclética assistência, onde podíamos encontrar em partes mais ou menos iguais gente de todas as idades, de todos os estratos sociais, e com muito variáveis níveis de descontracção em relação ao que se estava a passar.

A primeira impressão, enquanto esperávamos, foi de quão pequeno o palco era, pelo menos quando comparado com as dimensões da sala, o que nos fez recordar imediatamente que este era um espectáculo de cabaret, idealizado para um clube nocturno com a assistência sentada à mesa ou no bar a beber um copo, e não nas filas de confortáveis cadeiras forradas a veludo cor-de-rosa do Auditório dos Oceanos.

E depois, o espectáculo começou.

A abertura, "God Save Our Bareskin", contou com todas as dançarinas em palco, numa sátira à guarda do Palácio de Buckingham. Um número magnetizante, não só pela hiper-coreografia da sua execução, mas pela impressão causada pelas doze raparigas, virtualmente indistinguíveis umas das outras, os seus corpos quase nus absolutamente perfeitos.

Depois da projecção de um breve filme que ilustra os bastidores do Crazy Horse de Paris, o programa continuou, com números para todos os apreciadores das diferentes facetas do burlesco.

"Leçon de Seduction" é um dos mais sensuais números de striptease a que eu já assisti; desde a atitude da dançarina, a forma como se contorce sobre aquele sofá de lábios vermelhos, até à subtileza do trabalho de iluminação, tudo é perfeito. Em "Attitude", um delicado bailado de simetria, os corpos das duas bailarinas em palco são as telas para a projecção de um espectáculo de luz e cor. "Champanhe Taste", talvez o meu momento favorito, é um divertido solo na linha dos tradicionais números de vaudeville americano, com um toque de marotice. "Vestal's Desire" é um intrincado jogo de luz e ilusão, com cinco dançarinas que aparecem e desaparecem num tributo às sacerdotisas da Roma Antiga.

Outro ponto alto da noite foi "But I'm a Good Girl", um striptease cheio de energia, alegria e frescura. "Beauty Boudoir" volta a jogar às escondidas com o público, desta vez atrás de biombos e portas de saloon. "Lola" é um espectáculo por si só, com toda a força e sensualidade do tango. Em "Chair Me Up", a música de Prince dá um toque diferente a um clássico do cabaret.

Mas a verdadeira obra-prima só chegou com "Teasing". Quando as luzes se acendem e o número começa, tudo o que vemos é um par de pernas perfeito, por trás, em tacões altos. Depois começa a música e a dança que são a definição de tudo quanto existe de erótico. A cena repete-se três vezes, com uma precisão incrível, perdendo uma peça de lingerie a cada volta. O striptease no seu melhor.

"Chain Gang" é o quadro que se segue, e ilustra a fantasia da mulher-fera, numa dança felina atrás das grades. "Adágio" trás de volta a maior parte do elenco para um número de inspiração greco-romana, e "Lay Laser Lay" acrescenta o fumo ao espectáculo de luzes, numa das coreografias mais originais e contemporâneas da noite, antes todas as dançarinas regressarem de novo ao palco para a despedida e um alegre número final.

Pelo meio, houve ainda um número típico do burlesco à moda antiga, com magia e palhaços. Aliás, esse número conseguiu arrancar ao público mais aplausos do que qualquer das raparigas -- notou-se uma certa falta de empatia, de capacidade de relacionamento entre as dançarinas e o público das primeiras filas, que se mostrou completamente impassível durante toda a noite -- e essa foi uma das razões pelas quais, à saída, tanto eu como a Charlie estávamos ao mesmo tempo maravilhadas e desapontadas.

O espectáculo em si não teve nada a apontar, e correspondeu inteiramente às nossas altas expectativas, mas saímos de lá com a boca a saber a pouco. A primeira coisa que fizemos foi olhar para o relógio e perguntarmo-nos, "Já acabou?" Mais uma vez, fomos recordadas de que o Crazy Horse é um espectáculo de cabaret, idealizado para um espaço, físico e não só, e para um público com características muito diferentes das do Auditório dos Oceanos.

De qualquer forma, se ainda forem a tempo de as apanhar em Lisboa, vão com toda a certeza passar uma noite bem passada. Se não, recomendo vivamente um saltinho ao número 12 da Avenida George V da próxima vez que estiverem em Paris.


***

Le Crazy Horse
Auditório do Oceanos, Casino de Lisboa
domingo e de terça a quinta-feira às 22h
sexta-feira e sábado às 20h30 e 23h30

12, Avenue George V - 75008 Paris
de domingo a sexta-feira às 20h30 e 23h
sábado às 19h30, 21h45 e 23h50

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